Publicado em 3 de outubro de 2025 Por Pedro Paulo Alves Batista, Terapeuta Ocupacional em formação (graduando do quarto semestre)
Quando se fala em internação hospitalar, a mente automaticamente nos leva a médicos, enfermeiros, cirurgias e medicamentos. Mas existe um profissional cuja atuação é fundamental para que o paciente não seja apenas "tratado", mas que possa retornar à vida com autonomia e significado: o Terapeuta Ocupacional (T.O.).
A Terapia Ocupacional em contextos hospitalares é uma especialidade que atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de indivíduos, desde a admissão até a alta, e em alguns casos, no acompanhamento ambulatorial pós-internação. Nosso foco vai além da doença; olhamos para as ocupações – tudo aquilo que preenche o dia a dia de uma pessoa – e como a condição de saúde impacta sua capacidade de realizá-las.
Onde o Terapeuta Ocupacional Atua Dentro do Hospital?
A presença do T.O. é versátil e abrangente, atuando em diversas unidades:
Unidades de Terapia Intensiva (UTI): Em um ambiente tão crítico, o T.O. trabalha na prevenção de déficits funcionais, estimulando a mobilidade precoce (mesmo no leito), prevenindo deformidades, promovendo o despertar do paciente e auxiliando na transição para outras unidades. O objetivo é minimizar o impacto da internação prolongada e da sedação.
Enfermarias (Clínica Médica, Cirúrgica, Neurologia, Pediatria, Ortopedia): Aqui, o foco é maximizar a independência nas atividades de vida diária (AVDs) e atividades instrumentais de vida diária (AIVDs). Isso inclui alimentação, higiene pessoal, vestir-se, uso do banheiro, e tarefas mais complexas como o gerenciamento de medicamentos. O T.O. também lida com o planejamento da alta e a adaptação do ambiente domiciliar.
Pronto-Socorro/Emergência: Em situações agudas, o T.O. pode realizar avaliações rápidas para identificar riscos de funcionalidade e orientar a equipe sobre a melhor forma de mobilizar e posicionar o paciente, prevenindo complicações.
Ambulatórios e Hospital-Dia: Após a alta, o T.O. pode continuar a reabilitação, focando no retorno ao trabalho, lazer e participação social, adaptando ambientes e ensinando estratégias para o gerenciamento de doenças crônicas no domicílio.
Quais São os Principais Objetivos da Intervenção?
Nosso trabalho é sempre centrado no paciente e em suas necessidades ocupacionais. Os principais objetivos incluem:
Promoção da Autonomia e Independência: Reabilitar e adaptar atividades para que o paciente possa realizar o máximo possível por si mesmo, respeitando suas limitações e potencialidades.
Prevenção de Incapacidades: Evitar que a condição de saúde ou a internação prolongada levem a novas perdas de função (ex: fraqueza muscular, contraturas, úlceras por pressão).
Adaptação e Compensação: Ensinar novas formas de realizar tarefas, utilizar recursos e tecnologias assistivas (órteses, adaptações de talheres, calçadores) ou modificar o ambiente para facilitar a participação.
Psicoeducação e Aconselhamento: Orientar o paciente e sua família sobre a condição de saúde, prognóstico funcional e estratégias para gerenciar os desafios no dia a dia, minimizando o impacto psicossocial da doença.
Reintegração Social e Domiciliar: Preparar o paciente para o retorno ao seu ambiente de origem, seja em casa, no trabalho ou na comunidade, garantindo que ele tenha os recursos e estratégias necessários para uma participação plena.
Exemplos de Atuação na Prática
Em um AVC: O T.O. ajuda o paciente a reaprender a se vestir com um braço paralisado, adapta talheres para facilitar a alimentação e treina a escrita ou o uso do computador.
Em um Pós-Cirúrgico Ortopédico: Orienta sobre as melhores posições para dormir sem comprometer a recuperação, ensina técnicas para usar o banheiro com segurança e adaptar a cozinha para cozinhar sentado.
Em Pediatria: Ajuda crianças internadas a manterem o brincar como forma de desenvolvimento e enfrentamento da dor, adaptando brinquedos e atividades para suas condições.
Em Cardiologia: Trabalha a conservação de energia e o planejamento de atividades para pacientes com insuficiência cardíaca, permitindo que realizem tarefas diárias sem sobrecarregar o coração.
A Terapia Ocupacional no ambiente hospitalar não é apenas sobre "curar", mas sobre cuidar da funcionalidade, da dignidade e da qualidade de vida de cada indivíduo, garantindo que a jornada de tratamento seja um passo em direção a uma vida plena, mesmo diante dos desafios da doença.