A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem terapêutica amplamente utilizada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, nas últimas décadas, a ABA tem sido alvo de crescentes críticas e questionamentos, principalmente pela comunidade neurodivergente. Uma das principais razões para esse questionamento reside na percepção de que a ABA, em alguns casos, busca "normalizar" comportamentos de indivíduos neuroatípicos, em vez de focar na aceitação e no desenvolvimento de suas individualidades.
A ABA é baseada nos princípios do behaviorismo, buscando modificar comportamentos através de reforços positivos e negativos. Originalmente, a ABA era mais focada em reduzir comportamentos considerados "indesejados" ou "problemáticos", como estereotipias (movimentos repetitivos) e comportamentos autoagressivos. Essa abordagem mais antiga, em alguns casos, utilizava métodos considerados aversivos, o que gerou grande controvérsia.
As Críticas à ABA:
- Ênfase na "normalização": Uma das principais críticas é que a ABA, ao tentar moldar o comportamento de indivíduos autistas para se adequarem a padrões neurotípicos, ignora a importância da neurodiversidade. A neurodiversidade reconhece que as diferenças neurológicas são variações naturais da condição humana, e não deficiências a serem corrigidas.
- Supressão de comportamentos naturais: A tentativa de suprimir estereotipias, por exemplo, é vista por muitos como prejudicial, já que esses comportamentos podem ter funções importantes para a autorregulação sensorial de pessoas autistas.
- Falta de foco no bem-estar: Críticos argumentam que a ABA, em alguns casos, prioriza a obediência e a conformidade em detrimento do bem-estar emocional e da autonomia do indivíduo autista.
- Histórico de métodos aversivos: Embora a ABA moderna tenha evoluído e enfatize o reforço positivo, o histórico de utilização de métodos aversivos ainda gera desconfiança.
- Falta de participação da comunidade autista: Por muito tempo, a ABA foi desenvolvida e aplicada sem a devida participação e consideração das perspectivas de pessoas autistas, o que levou a uma falta de compreensão de suas necessidades e experiências.
A Percepção de Deslegitimação de Neuroatípicos:
A percepção de que a ABA busca "deslegitimar coisas de neuroatípicos" surge da ideia de que ela tenta apagar características que são intrínsecas à identidade de pessoas autistas. Ao invés de valorizar e adaptar o ambiente para acomodar essas diferenças, a ABA, em alguns casos, busca forçar a adaptação do indivíduo ao ambiente neurotípico. Isso pode levar à internalização de sentimentos de inadequação e à negação da própria identidade.
A ABA Moderna e a Neurodiversidade:
É importante ressaltar que a ABA tem evoluído e muitos profissionais atualmente adotam uma abordagem mais alinhada com os princípios da neurodiversidade. Essa abordagem se concentra em:
- Aceitação e valorização das diferenças: Reconhecendo que as características autistas fazem parte da identidade do indivíduo.
- Foco no desenvolvimento de habilidades: Ajudando o indivíduo a desenvolver habilidades que o auxiliem a atingir seus objetivos e a ter uma vida mais independente e satisfatória.
- Respeito à autonomia e ao bem-estar: Priorizando o bem-estar emocional e a autonomia do indivíduo, respeitando suas necessidades e preferências.
- Colaboração com a comunidade autista: Buscando o diálogo e a participação de pessoas autistas no desenvolvimento e na aplicação das terapias.
Conclusão:
O questionamento da ABA não significa necessariamente uma rejeição total à terapia, mas sim um chamado para uma prática mais ética, respeitosa e alinhada com os princípios da neurodiversidade. É fundamental que os profissionais de ABA estejam abertos ao diálogo com a comunidade autista, buscando compreender suas perspectivas e adaptar suas práticas para melhor atender às suas necessidades. A prioridade deve ser sempre o bem-estar, a autonomia e a aceitação da identidade de cada indivíduo.
É importante também que pais e responsáveis por pessoas autistas busquem informações e dialoguem com profissionais e com a própria comunidade autista para tomar decisões informadas sobre as terapias mais adequadas para cada caso.